A 9ª edição da Copa do Mundo Feminina teve início no mês passado e está sendo realizada em dois países, Austrália e Nova Zelândia. O torneio de 2023 já é considerado o maior de todos os tempos na modalidade, devido ao envolvimento com mais times femininos, crescente números de transmissões e torcedores.
A grande final está marcada para o próximo domingo, dia 20 de agosto e, infelizmente, a Seleção Brasileira encerrou sua participação de forma precoce, ainda na fase de grupos. Com isso, o sonho do primeiro título das brasileiras em mundiais foi adiado.
Enquanto a primeira Copa do Mundo Feminina era organizada pela FIFA em 1991, na China, em Barroso o futebol feminino já havia sido implantado.
Criado pelo ex-prefeito Baldonedo Arthur Napoleão, em seu segundo mandato entre 1983 e 1988, o Barroso Futebol Clube Feminino foi um sucesso e levou o nome da cidade para toda a região.
Ao criar a equipe feminina do Barroso Futebol Clube, o ex-prefeito ofereceu a mesma estrutura da equipe masculina com campo, transporte, uniforme e treinador.
“Foi um trabalho de meses, mas as meninas começaram a apanhar gosto com a meta de ter o primeiro jogo. Era uma atração tremenda, eu me lembro que elas faziam as preliminares das partidas masculinas e os campos enchiam para vê-las jogarem.
O Barroso Futebol Clube Feminino, formado apenas por barrosenses, ganhavam a maioria das partidas, logo não haviam adversárias à altura. Infelizmente, existiam poucos campeonatos na região e o time disputava mais amistosos, desencorajando-as a continuar. O apoio permaneceu até o fim do meu mandato, após isso, o Barroso FC acabou.”, explicou Baldonedo sobre o fim do time feminino.
Dono de um plantel estrelado, o “Esquadrão Feminino”, como ficou conhecido, possuía a mentalidade de que a melhor defesa de um time é o ataque, assim, grande parte de suas rivais eram superadas pelo placar mínimo de 4 gols. Com o Estádio São José lotado, em partida válida pela preliminar entre o Barroso Futebol Clube Masculino e a Seleção Brasileira de 1970, as meninas venceram a equipe feminina do Fluminense/RJ por 10 a 1, com direito a gol olímpico de Loló.
“Bati um escanteio de canhota, mas foi um chute sem pretensão. Na hora que as meninas pularam e gritaram gol, que percebi. Então, foi meio sem querer.
Comecei a jogar com meus dez anos de idade, na rua. Foi através da família Araújo, base daquele primeiro time, que fui descoberta. Na época não tínhamos muita referência feminina no futebol. As meninas de hoje têm uma Marta, outras jogadoras brasileiras e internacionais para se inspirar e não precisam mais pegar um Messi ou Neymar. No nosso caso, nos espelhávamos em nomes como Pelé, Rivelino, Zico, Dinamite e por aí vai.”, complementou Loló.
Já a ex- ponta de lança, Lúcia Helena, nunca esqueceu o desafio de conquistar a torcida na época, “pois gritavam que lugar de mulher era na cozinha. [..] Com o tempo os homens começaram a lotar o campo e torcer para nós. Vencemos o preconceito!.
Os times começaram a desanimar em jogar com a gente, não queriam mais perder. Até a torcida rival torcia para nós. Nossa fama correu por vários locais do Brasil, inclusive, tinham times grandes querendo contratar eu, Adriana, Loló e Leila, o quarteto de ataque do Barroso FC. No entanto, não fui, pois era muito nova e meu pai não deixou.”, revelou a camisa 9.
Via telefone, a emissora conversou com o primeiro treinador da equipe, Vicente Melo. Ele nos contou que durante a formação, foram feitos dois times que jogavam entre si. As meninas tinham vontade de aprender a jogar, contribuindo para o desenvolvimento delas. Vicente também destacou que os treinamentos eram baseados em sua experiência na época de jogador do Montanhês e lembra que um dos exercícios de condicionamento físico era o chute em bola com areia dentro, uma forma de melhorar a potência do chute, visto que a bola de jogo era pesada, sendo a mesma usada pelos homens.
A reportagem apurou a existência de garotas que seguem praticando o futebol na cidade, contudo, estão inseridas em equipes de base masculino ou migraram para a modalidade futsal.
Ainda em 1983, o futebol feminino acabara de ser regularizado no país após proibição durante o período da ditadura militar, por ser considerada uma prática “incompatível com sua natureza”. Os efeitos deste veto perdurar por tantos anos, reflete na cultura do futebol moderno com a desvalorização do futebol feminino e o constante preconceito quanto à prática do esporte por mulheres.
Reportagem: Gabriel Silva