Prestes a complementar 96 anos de idade, Maria de Lourdes Melo, ou Dona Lourdinha, como era carinhosamente apelidada, se despediu de sua jornada nesta vida na última terça-feira (19).
Conhecida por muitos através de sua presença nas missas e também nos ensaios de festividades da Paróquia de Sant’Ana, sempre sentada e concentrada frente ao seu Harmônio, alguns ainda relembram de Dona Lourdinha severa, séria e dos “cascudos” durante os ensaios de Coroação, no mês de maio e Desagravo.
Tem também quem fecha os olhos e recorda das aulas de sábado, da Cruzada e MEJE. Se preparando para o desagravo festivo, o único que alunos e alunas participavam juntos no mês de junho.
Os antigos Coroinhas, ao mesmo tempo que corriam da mesma durante a Semana Santa, esperavam ansiosamente a Páscoa, para serem presenteados por ela com os ovos de chocolate.
Mas como foi o início dessa grande história de fé, devoção e entrega a Deus? Seu legado transcende as simples palavras. Desde os tempos de adolescente, frequentando o Colégio Imaculada, em Barbacena, onde mergulhou na atmosfera do colégio interno feminino, cultivou uma devoção imensa por Maria Santíssima, a Senhora das Graças. Foi nessa época que os primeiros traços dessa dedicação singular foram semeados, talvez moldando o seu caminho futuro.
Sua jornada como professora e diretora na E.E. Francisco Antônio Pires foi apenas o começo de uma vida marcada pela entrega e devoção à comunidade. Em paralelo a essas atividades, desempenhou um conjunto de papéis vitais na Paróquia de Sant’Ana. Ao lado do Cônego Luiz, dominou a arte de tocar harmônio, uma habilidade que se tornou uma dádiva para a música sacra. Desde tenra idade, dedicou-se altruisticamente a essa arte, presente em todas as missas semanais e dominicais.
Sua influência e presença não se limitaram à música; foi coordenadora e membro ativo das Filhas de Maria, desempenhando um papel crucial como catequista por longos anos. A cruzada eucarística também testemunhou sua liderança, deixando uma marca indelével.
Nos bastidores, exerceu por longos anos a função de secretária da Paróquia de Sant’Ana, uma posição voluntária que revela sua dedicação incansável à comunidade. Era ela quem coordenava as coroações do mês de maio e o desagravo em junho, além de cuidar dos detalhes da pescaria na Festa de Sant’Ana.
Por muitos anos esteve como tesoureira da Paróquia de Sant’Ana e do Instituto Nossa Senhora do Carmo.
Sua devoção ultrapassava as fronteiras do ritual, estendendo-se à limpeza do altar e à manutenção dos enfeites. Seu zelo era evidente ao cuidar das alfaias e objetos sacros da matriz, garantindo que cada detalhe estivesse impecável para os eventos religiosos.
Na semana santa e na festa da padroeira, desempenhou papéis essenciais, demonstrando sua dedicação inabalável à fé que permeava cada aspecto de sua vida. Seu legado é verdadeiramente inestimável, transcendendo as palavras e se entrelaçando profundamente na história da comunidade.
E sua história, em carne e osso, termina na tarde de quarta-feira (20), sob o som da Banda Municipal de Barroso e com a presença de várias pessoas, quando foi sepultada no Cemitério Municipal, que fica no bairro que leva o nome da mãe de Jesus, Santa Maria!